Antes de mais nada, uma honra poder participar desse debate como "mediadora". Quero dizer que falo desde um lugar de mulher branca cis hetero que vem desconstruindo os valores patriarcais introjetados em mim. Esse processo tem me aberto portas imensas. Desse lugar faço o convite ao debate.
OUVIDOS ABERTOS
Acredito que é fundamental e urgente a discussão que o texto do Glauber Resende levanta. Ao tratar da questão dos padrões heteronormativos em nossa cultura musical, abre uma imensa porta para a questão de gênero e a forma como a tratamos em sala de aula.
Abro esse forum chamando atenção para artistas trans que vêm ocupando espaço na cena musical, colocando sua voz e sua arte a serviço da desnormatização desses valores de forma bastante contundente. Neste grupo estão Liniker, As Bahias e a Cozinha Mineira, Pablo Vittar, Linn da Quebrada, para citar apenas algumas entre tantes outres. São vozes que rompem com o conceito de gênero binário. Em uma cultura que transmite e normatiza padrões cisheteropatriarcais, é primordial escutarmos essas vozes. É preciso ouvi-las com a escuta aberta e atenta.
Na direção do que nos propõe Glauber em seu texto, ao pensar na criação de um ethos que incorpore as diferentes singularidades de existências bixas, rompendo com o juízo de que existe uma forma de ser melhor que a outra, podemos parar de reproduzir educações musicais que se dizem neutras (fazem a egípcia), quando na verdade preservam éticas neoliberais criptorreligiosas herdadas dos ambientes em que fomos criados.
Quanto nossas ações e escolhas como educadoras musicais reproduzem e preservam esses padrões excludentes? Quanto estamos atentos e conscientes dessas normatizações herdadas desse sistema em que fomos criadas?
Fica o convite para uma escuta aberta, afetiva e efetiva de nós mesmos e dessas vozes urgentes e emergentes, para que possamos aprender e assim nos transformar.
Está aberta a discussão!